segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Moradia Sustentável - começando uma experiência

Pensei bastante antes de decidir fazer um blog. Mas me move o desejo de compartilhar a experiência de construir uma nova moradia, buscando a sustentabilidade. Sustentabilidade quer dizer que a habitação deve ser construída com o menor impacto ambiental negativo possível, tanto no processo de edificação, quanto na manutenção. O que vai exigir uso de energia alternativa, como energia solar e éolica, reuso da água, captação e armazenamento da chuva, tratamento de residuos, uso de fossa ecológica - que devolve a água com mais de 90% de pureza -, separação do lixo não orgânico e aproveitamento dos restos que possam ser compostados (orgânicos). Igualmente é preciso considerar o aspecto social e a mão de obra precisará ser protegida quanto aos seus direitos legais. E também é importante pensar na questão financeira, para evitar endividamento.
Não é uma coisa fácil. Desde a escolha do terreno, tudo foi complicado. Primeiro, encontrar um lote legalizado, com registro no cartório, evitando contribuir para o uso desordenado do solo, um mal que assola Brasília nas duas últimas décadas. O projeto inicial, que era fazer uma ecovila, esbarrou na mudança da legislação, uma vez que a Corregedoria do DF proibiu, em novembro de 2007, os cartórios de escriturar área rural até 2 hectares - como é o caso da Armação - em nome de mais de uma pessoa. Éramos três amigas sonhando com uma ecovila, com habitações sustentáveis, preservação do cerrado, agrofloresta. Portanto, depois de 15 longos meses entre idas ao IBRAM para averbação da Reserva Legal e da Área de Preservação Ambiental, mudança da cerca porque o vizinho estava com a sua deslocada no nosso terreno em cerca de 2.000m2 e idas e vindas ao cartório, acabei adquirindo o lote sozinha. Isso impactou meus custos, pois triplicou o valor de aquisição. Mas eu não quis desistir e assinei a escritura finalmente em setembro de 2008. O sinal foi pago em maio de 2007, ao vendedor. Aliás, uma pessoa muito gentil, íntegra e a finalização da compra se deu de maneira honesta, tranquila.
Durante esse ano, fizemos alguns pequenos investimentos, embora ainda não tivessemos a posse, com a concordância do dono. Se não chegasse a bom termo, paciência. Além do acero, na seca de 2007, que foi feita pelo Raimundo, que é caseiro do Seu Bonifácio, vizinho de frente da chácara e pega serviços extras com o aval do patrão, resolvemos fazer o inventário florestal da área de intervenção. Sabemos que o normal é chamar o trator e "limpar" o terreno, respeitando apenas a RL e a APP. Mas não queriamos isso. O cerrado estava ali, belissimo, com seus pequizeiros, jatobás, sucupiras. Para o inventário, contamos com a parceria do Reinaldo, amigo da familia, que chamou mais um engenheiro florestal e, em cinco visitas, mapeou, na área de intervenção, 60 espécies relevantes e identificou, com plaquetas, 300 indivíduos dessas espécies.
A dupla nos cobrou um valor bem abaixo do mercado. Foi nosso segundo investimento e pretendo futuramente expor os nomes populares dessas árvores e seus usos medicinais, para quem visitar a Armação conhecer a riqueza do nosso cerrado e, quem sabe, se precisar, coletar material para um chazinho, uma tintura, uma compressa. Pretendo montar uma mini farmácia natural, para socorrer os amigos e amigas, a família, os colaboradores. Claro que vou precisar estudar um tanto.
Bem, assinada a escritura, chegou a hora de fazer o projeto de ocupação do espaço, o que está a cargo de meu filho, Leonardo, que é arquiteto, tem conhecimento em Bio Construção e Permacultura e defende a sustentabilidade com aquele jeito sereno dele, pragmático. Como não teremos mais a ecovila, onde pensamos em um espaço de convivência agradável, amplo, agora precisamos adaptar nosso sonho à realidade - uma casa pequena, de 150m2 no máximo, mais um espaço de convivência onde possamos reunir os amigos, receber pessoas que queiram conhecer o projeto, abrir talvez as portas para profissionais da área que queiram dar palestras e cursos, enfim, vamos trabalhar com o pouco recurso que sobrou depois da compra do terreno.
Estou agora em meio a uma encruzilhada - já fiz duas excursões a Minas, para buscar materiais de demolição mas os custos são altos. Insisti na questão dos pilares a partir de postes de aroeira e hoje um funcionário da CEMIG - pessoal muito atencioso, lá - me ligou dizendo que conseguiu selecionar uns 30 postes de 10 metros de aroeira. O preco por metro é barato, mas o frete será caro. Talvez eu tenha errado, nessa escolha. Além do impacto do transporte até aqui, financeiro e ambiental, creio que eu vá ter que alugar um caminhao munck ou um guindaste para descarregar a madeira. E não sei se a carreta conseguira manobrar, vou ter que falar com o motorista antes. Mas não estou disposta a voltar atrás agora, tiveram trabalho, eu me comprometi. Ir até lá para conferir ou enviar alguém, acho que será mais um custo. Vou arriscar. E rezar, ás vezes ajuda, embora que não goste de ocupar Deus com minhas pequenas encrencas cotidianas.
Esta semana, estou na fase de ligar a luz no lote. Um mestre de obra local pegou a empreita e o eletricista já foi lá no domingo, dia 05 de outubro, para iniciar a colocação da tubulação subterrânea. Muito simpático, o Seu Francisco.
Vou disponibilizar uma planilha com os custos desses investimentos, para subsidiar pessoas interessadas. O nome e fone dos profissionais, por enquanto não vou colocar, preciso que me autorizem a isso. Mas vou informar as lojas onde comprei, após pesquisar. Mas até isso é complexo, porque nunca você vai encontrar todos os mesmos itens/marcas. Pelo menos no material elétrico, no final, a diferença entre os fornecedores não é expressiva. Acabei optando pela Sucuri, em Taguatinga, porque é uma loja especialista em elétrica, foram gentis e não me cobraram frete, levando o material direto para a casa do Seu Francisco. Mas enviei e-mail para cotação para umas 5 lojas, antes de decidir.
O que estou achando interessante é visitar ferro velho. E estou garimpando tacos usados para fazer o piso dos quartos; já consegui, com ajuda da minha amiga Vanilza, uns 15 metros quadrados. Grátis. Com a ajuda da Vanilza, vírgula. Ela é quem conseguiu, na verdade.
Aos poucos vou fazer o registro completo, as planilhas, vou contar tudo! Por enquanto, fiquem com algumas imagens. Para começar, do lote, visto pelo Google. Ainda não aparece a estradinha que fiz, no meio do terreno, preservando praticamente todas as árvores. Foi necessário remover apenas três pequenos individuos, mas tenho outros da mesma espécie e vou replantar. Mas dá para perceber o quanto o terreno está preservado, não é mesmo?
Aliás, vale registrar que pretendo usar ao máximo especies nativas, só vou introduzir aquelas indispensáveis ao dia a dia, como limão, acerola, maracujá, uns dois pés de manga, enfim, mas pretendo fazê-lo numa Mandala. E vou colocar os links, depois, para o projeto da Agencia Mandalla, é muito bonito, chega a emocionar a gente. Também do IDER, do Ceará, que tem um projeto maravilhoso de fogão a lenha ecológico. Do Ecofogão, em Minas, que já faz um com serpentina para aquecer água e cujo consumo de madeira é de 2kg por hora apenas, com uma boca pequena, possibilitando que v. use aparas de poda, sobras de obra. E claro, uso racional e plantio para zerar sua emissão de gás carbônico têm que estar na sua agenda. E não poderão faltar os links para os sites do pessoal da Permacultura, aqui da região.
Até a próxima
Tânia Aguiar

5 comentários:

Lin disse...

Ei querida. Bom vc por aqui. Que bom que resolveu virar blogueira e compartilhar com mais pessoas essas experiências maravilhosas. Essa é a Tânia! Bom trabalho!Será mais um canto encantado.
Bj
Alice

Yone Correia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yone Correia disse...

Olá, Tânia querida!!
Vejo que vc está rabalhando a mil, hein?..rsrs
Olha, viajei nas suas palavras. Vc é realmente fantástica...qd crescer quer ser igual a vc, viu?
Espero ter a oportunidade de conhecer a Armação dos Anjos, sua idéia é muito bonita e merece sim ser compartilhada.
Beijos em todos!!!
Aguardo mais notícias.
Yone Correia.

Unknown disse...

Nossa! Que trabalho, hein prima!
Os primeiros passos são sempre os mais difíceis mesmo.
Estamos às ordens para o que precisar. Fique a vontade para nos pedir se quiser introduzir alguma espécie do bioma da Caatinga nesse Éden do Cerrado.
Um grande abraço!!

tetê disse...

Olá querida amiga, já conhecia teu sonho mas nem de longe imaginava um projeto tão lindo. Conte comigo para ajudar e te acompanhar no que for preciso. Um grande beijo e sucesso!!!!!!!